Thursday 19 August 2010

The English Way - Prólogo

Em todos os momentos do vôo, desde o momento em que o avião decolou de solo inglês até o momento em que ele pousou em solo americano, eu não consegui dormir. A toda hora vinha uma imagem da minha mãe, dela no hospital ou do enterro...


- Andrew, - o medico veio falar-me – eu... nós... não conseguimos.
- Como assim... não conseguiram?
- Desculpa. O câncer era muito maior que os exames mostraram. Ela faleceu na mesa de cirurgia. Desculpa! – ele disse, por final, me dando um tapinha nas costas.
Porque as pessoas tem a mania de achar que desculpas e tapinhas nas costas vão modificar alguma situação ruim? Minha vontade era de gritar, de destruir todo o hospital... no entanto, eu me sentia fraco, como se uma bomba tivesse sido jogada contra mim. De uma certa maneira, isso era uma bomba.


- Andrew, querido?! – minha Tia Mary me cutucava assim que nossas bagagens começaram a sair na esteira – Está dormindo?
- Oh, tia, desculpa. Estou desligado. – eu avistei minha bagagem e logo a tirei, colocando-a em meu ombro.
Mesmo estando de mudança para a casa de meus tios, eu não queria ocupar muito espaço. Além disso, eu nunca fui muito de ter zilhões de roupas na moda. Pra mim bastavam jeans, camiseta, uma jaqueta e all star. Preto. Que era exatamente o que eu estava usando agora.
- Tia, - eu chamei tia Mary enquanto ela procurava sua mala vermelha de rodinhas – eu vou ao banheiro, tem problema?
- Não mesmo, querido! – ela respondeu, sorrindo fracamente – Assim que sair, nos encontre na saída D do aeroporto. Seu tio Ben está lá com Phillip, nos encontre.
- Claro, tia! – eu respondi e saí.
Era impressionante como tia Mary era parecida com mamãe. Ate seu modo de falar, hoje em dia mais americano que o de Fiona, minha mãe, era idêntico. Eu entrei no banheiro masculino e joguei minha mochila no chão.
Olhei minha face no espelho e não gostei muito do que vi. Esse não parecia ser eu. eu não tinha esses olhos cinzentos doentios. Meus olhos costumavam ser normais. Hoje eu vestia um aspecto sombrio, com olheiras de quem não dorme há anos. Como um zumbi.
Minha barba por fazer, não deixava que eu visse meu maxilar bem marcado, herdado, segundo minha mãe, de meu avô William, pai dela. Minha barba era quase uma denuncia dos meus maus tratos comigo mesmo.
Meu corpo ainda mais magro do que o normal, me dava uma aparência de fome e tristeza. Mesmo com um moletom de Cambridge, minha antiga universidade, eu não parecia mais cheinho. Eu era a própria cara estampada na campanha contra a fome.
Meus 20 anos de idade, já não eram mais visíveis. Eu tinha me tornado uma pessoa amarga e envelhecida, com mais dores no coração que o necessário. Mas eu precisava me livrar disso, eu iria me livrar disso tudo!
Lavei meu rosto, peguei minha mochila e sai em direção ao carro de tio Ben, onde todos me esperavam. Eu ia tentar mudar, mesmo contra a minha vontade. Eu tinha que seguir em frente, ou me destruir por completo. Mas eu não podia me destruir.
- Você está bem? – tia Mary me perguntou quando cheguei ao estacionamento. Eles já tinham guardado a mala dela e esperavam-me para que guardassem a minha mala. Tio Ben a abraçava de lado e Phillip estava dentro do carro, mexendo no que parecia ser um iPod. Eu assenti a pergunta dela e fui falar com tio Ben.
- Bem vindo, filho! – ele me disse, enquanto me dava um tapinha nas costas. Essa história dos tapinhas realmente estava me deixando desconcertado. Ele pegou minha mochila e colocou na mala.
- Obrigado, tio. Por terem me recebido.
- Bobagem, querido. – Tia Mary falava – Como se eu fosse te deixar sozinho depois de tudo o que aconteceu conosco. Vamos, entre. Iremos pra casa.
Eu entrei no carro, do lado oposto a Phillip. Assim que sentei ao seu lado, acenei para ele e tentei dar um sorriso. Mas tudo o que ele fez foi olhar e continuar ouvindo ao seu iPod. É, não deu muito certo de primeira.
Philip era seis meses mais novo que eu e totalmente diferente em qualquer aspecto. Havia mudado muito desde a ultima vez que tinha visto-o, há uns quatro anos atrás. Naquela época, éramos novos e nos dávamos bem. O que não perdurava, partindo do principio que ele não havia me cumprimentado direito.
E sua aparência também tinha se modificado. Seus cabelos eram de um tom de mel escuro e seus olhos, azuis. Mas tinha deixado a infância de lado e agora era quase um homem. Assim como eu. Como quatro anos fazem diferença!
- Chegamos! – eu ouvi tio Ben falando, enquanto estacionava em sua garagem.
Eu tinha esquecido como são as grandes cidades americanas. Com seus prédios grandes e cinzentos, assim como em Londres. Eu sentiria falta de minha casa e minhas ruas com linhas infinitas de verde. Eu também sentiria falta do frio.

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